Moacyr Lopes Jr./Folha O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, receberá nesta segunda-feira (14) um ultimato do DEM.
Terá de informar se fica na legenda de oposição ou se vai mesmo fundar um novo partido governista, o PDB.
A cobrança chega às vésperas da convenção nacional do DEM, marcada para esta terça (15).
Nesse encontro, o senador José Agripino Maia (RN) será aclamado novo presidente do DEM, em substituição a Rodrigo Maia (RJ).
Agripino vai à convenção como cabeça de uma chapa única. Acomodaram-se na nova direção dois deputados submetidos à liderança de Kassab.
Um deles, Guilherme Campos (SP), foi escalado como titular da Executiva. O outro, Walter Ihoshi (SP), foi brindado com uma suplência.
Antes do Carnaval, Agripino reuniu-se com Kassab, em São Paulo. Ficou entendido na conversa que o prefeito teria de definir seu futuro antes da convenção.
O próprio Kassab declarou que não faria sentido manter na Executiva aliados que, confirmados, renunciariam e se bandeariam para um partido novo.
Depois do encontro, Kassab viajou para Paris. Retornou ao Brasil no final de semana. E não se dignou a tocar o telefone para Agripino.
Nesta segunda, Agripino se reunirá, em Brasília, com o ex-senador Jorge Bornhausen, presidente de honra do DEM.
Se a resposta de Kassab não tiver chegado, um dos dois –Agripino ou Bornhausen— vai cobrar dele, pelo telefone, uma definição.
Na hipótese de Kassab manter o projeto de deixar o DEM, os deputados Guilherme Campos e Walter Ihoshi serão apeados da Executiva horas antes da convenção.
O ultimato desce à crônica do DEM como movimento derradeiro de uma operação urdida para isolar o "fio desemcapado" Kassab.
Principal aliado do prefeito, Bornhausen tomou distância do projeto do novo partido, associando-se a Agripino na reestruração do DEM.
Outros personagens que gravitavam ao redor de Kassab foram atraídos para a chapa da “conciliação”.
De adversário de Agripino, o ex-senador Marco Maciel (PE) tornou-se candidato único à presidência do Conselho Político do DEM, hoje chefiado por Kassab.
Ex-vice de José Serra (PSDB), Índio da Costa (RJ) escalou a chapa de Agripino como vice-presidente.
O deputado Marcos Montes (MG), outro ex-aliado de Kassab, vai virar secretário-geral da legenda.
Antes, estimava-se que, consumada a migração de Kassab, algo como duas dezenas de deputados da tribo ‘demo’ o seguiriam.
Hoje, a nova cúpula do DEM avalia que o prefeito não leva mais do que três deputados federais de São Paulo.
Parlamentares que eram tidos como aliados incondicionais de Kassab mudam de rota em pleno vôo.
Um deles, o deputado Rodrigo Garcia (DEM-SP), telefonou de Londres para Agripino. Avisou que ficará no DEM.
A senadora Kátia Abreu (TO) escreveu no twitter, na semana passada, que o DEM continua na "UTI". Mas anotou que dará um "voto de confiança" a Agripino.
É contra esse pano de fundo que Kassab terá de tomar sua decisão. “Chegou o dead line do Kassab”, disse Agripino a um correligionário.
O senador esboçava na noite passada o discurso que pronunciará na convenção em que será aclamará como presidente.
Com ou sem a companhia de Kassab, vai defender que o partido comece a se organizar para a eleição municipal de 2012.
Deseja marcar imediatamente a data das convenções estaduais e municipais. Almeja abrir diretórios em cada um dos mais de 5.000 municípios.
Defenderá que a legenda lance candidatos em todas as praças nas quais consiga empinar nomes minimamente viáveis. Eventuais composições, só no segundo turno.
Dirá que se autoimpôs a missão de sanar as divergências regionais. Planeja correr o país.
Na tentativa de virar a página da crise interna, Agripino sustentará a tese segundo a qual o DEM é, hoje, a única legenda apta a empunhar a agenda liberal.
Inclui a defesa de um “Estado com tamanho adequado” e de uma “carga tributária decente”.
Desfralda a bandeira da participação do capital privado nas áreas em que o governo não tem dinheiro para investir: portos, aeroportos, energia elétrica...
Acha que, munido desse ideário, conseguirá reerguer o DEM. Ainda rumina um laivo de esperança de que Kassab fique. Mas exige a resposta.
Escrito por Josias de Souza às 04h58
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