Rejeição de Kassab atrapalha planos de Dilma para reforma no gabinete
Por Redação - de São Paulo e Brasília
Ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do recém-criado Partido Social Democrata (PSD), composto por egressos de legendas das extrema direita, como o Democratas (DEM) e PSDB, Gilberto Kassab comunicou à presidenta Dilma Rousseff, em jantar na noite passada, no Palácio do Planalto, que a legenda não integrará o ministério antes das eleições de 2014. Na oportunidade, Kassab disse que o partido optou pela “independência”, até porque, quando a legenda foi formada em 2011, reuniu quadros dissidentes da oposição ao governo, segundo informação vazada para a coluna Painel, do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.
– Eu disse a ela, e a presidenta compreendeu, que esta era uma decisão definitiva, oficial, e que reflete o desejo majoritário no partido – disse o político.
Embora permaneça na posição, Kassab deixou claro que, se a presidenta insistir, poderá contar com o vice-governador Guilherme Afif Domingos em seu ministério, mas a escolha será inteiramente de “caráter “pessoal” da mandatária. Domingos é cotado para a pasta da Micro e Pequena Empresa, mas também poderá rejeitar o convite. De qualquer forma, a presença do empresário paulista não mudará, em nada, posição da sigla.
A posição do PSD foi interpretada como uma verdadeira “bomba” para a consolidação do projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff na eleição de 2014, segundo analistas ouvidos pelo Planalto. A legenda, que estava lutando para ter um espaço no governo, desiste no momento que começam as movimentações em prol do projeto nacional do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), à Presidência da República. Campos foi um dos “fiadores” na criação do PSD e pode conquistar o apoio da legenda caso sua candidatura seja confirmada.
Oposição em São Paulo
Os planos do PT, de contar com Kassab para a eleição do candidato petista ao governo de São Paulo, também foram por água abaixo. O presidente da legenda já se lançou como candidato ao governo do Estado em 2014. Em recente entrevista ao mesmo jornal, o ex-prefeito da capital paulista anunciou que gostaria de ter a oportunidade e que sua candidatura tem naturalidade.
– Sonho em a ter a oportunidade de oferecer o meu nome para ser governador de São Paulo – declarou Kassab.
Na opinião do possível candidato, o fato de seu PSD apoiar a presidente Dilma na reeleição não impede uma candidatura própria ao governo paulista, já que as circunstâncias nacional e estadual são diferentes. Caso a candidatura se concretize, o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, deverá enfrentar uma oposição formada por três partidos da base governista nacional, com mais um candidato do PMDB, provavelmente Paulo Skaf, e um do próprio PT.
Dilma teria acertado com Kassab, no início do ano, ao lado do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, o ingresso da legenda na base aliada ao governo, desde que Domingos integrasse o ministério. A presidenta traçou, em conjunto com os demais partidos aliados, um plano para acomodar o nome indicado pela legenda, em uma intrínseca engenharia política, para a qual contou com a colaboração do vice-presidente e presidente do PMDB, Michel Temer. Chegou a anunciar, de forma transversa, a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, para entregá-la a Afif, que teria status de ministro. O assunto chegou a ser aprovado no Congresso.
No governo paulistano, com o atual prefeito, Fernando Haddad, Kassab manteve ex-auxiliares em posições estratégicas nas áreas de turismo e grandes eventos do município. O prefeito petista tem evitado críticas ao antecessor, chegando a elogiá-lo no discurso de posse, embora soubesse que encontraria limpos os cofres da municipalidade. O máximo que Haddad fez foi criticar a gestão anterior pela falta de manutenção nos semáforos, mas, em seguida, elogiou Kassab por seu planejamento para um centro de eventos na capital.
Para Haddad, a supresa também foi grande. Na noite passada, em votação na Câmara dos Vereadores de São Paulo, sete dos oito vereadores do PSD votaram contra o projeto de Haddad que estabelece a devolução aos paulistanos do dinheiro pago em inspeções veiculares feitas na gestão de Kassab pela empresa Controlar. A companhia, considerada inidônea, enfrenta processo de rompimento de seu contrato. Haddad ganhou a votação, mas o PSD marcou posição contra o prefeito.
Desenho ultrapassado
No escopo da reforma política da presidenta, que fez água no jantar da noite passada, o ex-governador fluminense Moreira Franco iria para a Secretaria da Aviação Civil e o deputado Antônio Andrade (PMDB-MG) ficaria com o Ministério da Agricultura. O problema, agora, reside na saída do atual ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro. A cúpula do PMDB queria que ele fosse para a Secretaria de Assuntos Estratégicos e levou a sugestão a Dilma. Em tratamento contra um câncer, Mendes resistiu à troca e avisou que, saindo da Agricultura, voltará para a Câmara, pois é deputado licenciado. Foi nesse cenário que se abriu a possibilidade de mais uma vaga para o PSD, que agora permanece em suspenso. O nome então indicado para a cadeira de Moreira Franco era o de Paulo Simão, presidente do PSD de Minas. Mas isso, agora, é história.
Na TV, o PSD estreará nesta sexta-feira, às 20h, no horário eleitoral gratuito, com um discurso de que é um partido que não faz “oposição por oposição” e que atua “a favor do Brasil”. A mensagem, de cinco minutos, foi produzida pelo publicitário de Florianópolis Fábio Veiga e é uma espécie de tradução para a definição cunhada por Kassab sobre a posição ideológica da sigla que estava fundando: “não é de direita, nem de esquerda, nem de centro”, disse o ex-prefeito.
Presidente e principal articulador do PSD, Kassab não aparece no vídeo nem é citado pelo locutor. O único político que aparece no programa é o vice-governador da Bahia, Otto Alencar. Sua aparição é justificada como uma homenagem ao primeiro Estado que aderiu formalmente ao processo de criação do PSD. Segundo integrantes da cúpula do partido, a ideia foi evitar “fulanização” e dar à apresentação da sigla no horário eleitoral um caráter “programático”.
– Brasileiros de todo o país se uniram em torno de uma ideia: criar uma organização política diferente, nova, que no lugar de reclamar, trouxesse soluções reais para os problemas do país – diz um ator no início do filme.
A peça publicitária também faz uma espécie de “defesa” da sigla, que durante a fundação foi alvo de diversas acusações de irregularidades na coleta das 500 mil assinaturas necessárias para o seu lançamento. A Justiça Eleitoral julgou regular o processo e concedeu o registro do PSD.
– Aí veio a reação. Ataques, notícias falsas e denúncias vazias. Mas o Trbunal Superior Eleitoral fez a verdade prevalecer – diz o locutor, enquanto o vídeo mostra uma série de reportagens sobre o tema.
O PSD ressalta, no vídeo, projetos de seus principais nomes, como o vice-governador Guilherme Afif (SP) –”facilitar a vida do microempreendedor”– e a senadora Katia Abreu (GO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) e representante da extrema direita no país –”o PSD acredita na força do campo, por isso defende a agricultura e o agronegócio com proteção ao meio ambiente”.
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