segunda-feira, 21 de julho de 2008

Ser conhecido, o maior desafio de um "nanico"



Candidato do PTdoB, Vinícius Cordeiro defende Guarda Municipal Armada e revisão tributária para atraior novos investimentos

Escolhido pelo PTdoB para candidato a prefeito do Rio, o atual presidente regional do partido, Vinícius Cordeiro, tenta driblar o que considera um dos seus principais desafios, o de se tornar conhecido dos eleitores.

Apesar de dispor de menos de um minuto no horário eleitoral gratuito, que começa a partir do dia 19 de agosto, o prefeitável acredita que pelo alto índice de rejeição dos candidatos principais, a possibilidade de que o eleitorado queira "experimentar" a opção de um novo nome é maior.

Antes mesmo de receber o aval da legenda para carregar a responsabilidade de representá-la, Cordeiro teve que enfrentar o assédio do senador e também candidato à prefeitura, Marcelo Crivella, da coligação "Vamos Arrumar o Rio" (PRB/PR/PRTB/PSDC), que tentou negociar com a cúpula do PTdoB uma possível coligação.

"Ele procurou a direção nacional e eu me vi obrigado a ter de enfrentá-lo no campo da demanda política e das idéias. O acho muito simpático, mas entendo que ele não vocalizava a forma pela qual o meu partido enxerga", afirma Vinicius.

Entre suas propostas para a cidade está o retorno da Polícia Militar para o trânsito do Rio, armar a Guarda Municipal, para dotá-la de poder de polícia, investimentos em programas de saúde e a transformação das escolas em pontos multimídias.

"O trabalho não é só educar as crianças e os pais, e sim tentar levar para dentro da escola toda a comunidade, fazendo-a interagir", diz. Além disso, o candidato do PTdoB defende a revisão do Código Tributário Municipal.

"O Rio passa por um esvaziamento econômico. Hoje, é melhor o pequeno e médio empresário abrir uma organização em Rio Bonito ou em Saquarema do que abrir no Rio. (...) Não defendo que se mexa na alíquota como um todo, mas é preciso termos uma política tributária inteligente para não perdemos esses postos de trabalho e fazermos com que os novos empreendedores queiram vir para o Rio", assinala.

Marcelo Copelli

TRIBUNA DA IMPRENSA - Na sua opinião, quais seriam as prioridades do Rio?

VINÍCIUS CORDEIRO - A cidade apresenta uma série de questões que, no fundo, estão interligadas entre si sistemicamente. Uma delas seria o transporte. Não tem como uma cidade se desenvolver de forma saudável sem dispor de um sistema de transporte de massa adequado. Precisamos de investimentos urgentes na recuperação viária e na iluminação pública, por exemplo. Pretendo também retornar a PM para o trânsito, pois entendo que a experiência com a Guarda Municipal não deu certo. É necessário dotarmos os conselhos municipais de grande força, o que não aconteceu nos "anos Cesar Maia".

Atualmente, não são protagonistas na qualidade de instrumento de planejamento de políticas públicas. Temos que recuperar a capacidade de investimento da cidade. Existe dinheiro, mas o prefeito errou na mão ao enterrar mais de meio bilhão de reais em apenas uma obra. A saúde ficou mal abastecida, não foram feitos investimentos significativos na educação e a cidade sofre as conseqüências. Para recuperamos a capacidade de investimento da cidade é preciso redesenharmos a gestão, cortar, pelo menos, 20% dos cargos comissionados para diminuir o "inchaço" da folha, que visam apenas a atender interesses políticos e nada produzem em favor da cidade, além da diminuição do números de secretarias.

De que forma o próximo prefeito poderá contribuir para ajudar a minimizar a violência que assola a cidade?

Conforme dito antes, devemos rever a situação da iluminação das vias públicas e o retorno dos policiais militares para a guarda do trânsito. Sou a favor de armar a Guarda Municipal, mas não para atuar de forma repressora, e sim com o objetivo de dotá-la de poder de polícia dentro dos órgãos municipais. Afasto qualquer crítica de se colocar homens mal treinados e armados. Também defendo a idéia de que a empresa municipal de vigilância deva ser extinta, e os guardas regidos pelo regime estatutário. Quanto ao condicionamento da violência em si, a prefeitura não pode fazer melhor coisa do que investir maciçamente em educação, e não falo somente da escola tradicional. Incluo também a educação para o trabalho, uma vez que hoje, existem demandas em diversos segmentos nesse sentido e temos uma massa de jovens de comunidades carentes que simplesmente não encontram alternativas no mercado.

evemos criar instrumentos para absorção no mercado de trabalho ou teremos a piora nos índices de violência, fatalmente.

Quais são os seus planos em relação à questão do caos na saúde, onde hospitais estão em péssimas condições, profissionais continuam sendo mal remunerados e a população entregue ao descaso? De que forma pretende evitar que episódios, a exemplo da epidemia da dengue, se repitam?

Temos, de forma emergencial, que recuperar a gestão plena em 100% da rede. Além disso, a prefeitura deve aplicar o que de fato é determinado pela lei na Saúde. O município do Rio não envia muitos projetos para a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), nem tem procurado ofertar alternativas de investimentos. É preciso que aprofundemos tal relação para conseguirmos mais recursos para remunerarmos melhor os profissionais de saúde, dotar os equipamentos públicos com maiores opções e, sobretudo, investir nos Programas Médico de Família, do Remédio em Casa e no equacionamento dos problemas de doentes renais e diabéticos. É impossível continuarmos a ouvir histórias de pessoas que são obrigadas a entrar na Justiça para ver atendidas a continuidade de seus tratamentos. Em relação ao controle das epidemias, defendo imediatamente a volta do "fumacê" e uma cooperação maior com a Funasa no controle epidemiológico, não só da dengue.

Qual a sua previsão quanto à recuperação do ensino público municipal, já que, altamente, a prefeitura não investe o preceito constitucional obrigatório por lei que determina a aplicação de 25% da arrecadação na educação?

Minha orientação no setor é calcada, sobretudo na observação de modelos simples, porém muito festejados, a exemplo da rede pública de Araruama (Região dos Lagos) e de Trajano de Moraes (Região Serrana) que transformaram a escola em um ponto multimídia, com a utilização de outros instrumentos de educação, como o xadrez, a música, espaços de leitura e o incentivo às artes. Precisamos transformar a escola em referência para a comunidade. O trabalho não é só educar as crianças e os pais, e sim tentar levar para dentro da escola toda a comunidade, fazendo-a interagir.

Evidentemente, isso passa por remunerar melhor os profissionais de educação. Colocar mais criança na escola e investir na educação é também passar a receber mais recursos. Essa equação perversa de estarmos perdendo alunos nas salas de aula, termos equipamentos escolares destruídos e termos poucos investimentos na manutenção desses recursos precisa ser freada e revertida. É preciso, sobretudo, vontade política. Ainda sobre a questão, esclareço que sou a favor da eleição direta dos diretores de escola. Devemos afastar de vez a interferência política nas escolhas e nas coordenadorias de educação.

A observação dos orçamentos da atual gestão demonstra pouquíssimos gastos em habitação. Ao mesmo tempo, para mexer com tal questão é preciso conciliar um eficiente sistema de transportes de massa, hoje, também afogado na degradação. Quais políticas poderão ser desenvolvidas nesse sentido?

Falta planejamento urbanístico para cidade e uma política integrada ambiental, sanitária e de ocupação do uso do solo, que ocasionaram a expansão desordenada das favelas. No governo Saturnino Braga, apesar de ter sido uma gestão mal avaliada, tivemos uma boa experiência que foi o conselho "Governo-Comunidade", que apontava os principais problemas na ocupação e no uso do solo em cada região da cidade e definia as prioridades na locação e compra de residências populares.

Se dotarmos o Rio de instrumentos de planejamento urbanístico e não só habitacional, podemos evitar ver os sem-teto ocupando prédios públicos, regiões sendo loteadas por invasores, além da expansão das favelas. Em relação aos transportes, o setor precisa ser repensado de forma integrada, levando-se em conta a ocupação industrial e a expansão habitacional.

Quais articulações o senhor analisa como sendo fundamentais a serem realizadas pelo município para respaldar uma geração de empregos maior na cidade?

Defendo a revisão do Código Tributário Municipal. O Rio passa por um esvaziamento econômico. Hoje, é melhor o pequeno e médio empresário abrir uma organização em Rio Bonito ou em Saquarema do que abrir no Rio. É balela qualquer candidato prometer geração de postos de emprego se não rever também as condições pelas quais a cidade cobra por um empreendimento. Não defendo que se mexa na alíquota como um todo, mas é preciso termos uma política tributária inteligente para não perdemos esses postos de trabalho e fazermos com que os novos empreendedores queiram vir para o Rio.

Quais as resistências enfrentadas em razão do seu partido ter lançado uma candidatura própria? Houve uma especulação de que o senhor foi pressionado a renunciar para apoiar o candidato do PRB, senador Marcelo Crivella ...

De fato, sofri pressões por parte do senador que queria a todo custo forçar uma coligação. Mas não uma que partisse da vontade da base. Ele procurou a direção nacional e eu me vi obrigado a ter de enfrentá-lo no campo da demanda política e das idéias. O acho muito simpático, mas entendo que ele não vocalizava a forma pela qual o meu partido enxerga o panorama político. A nossa legenda está aparelhada para enfrentar um quadro de candidatura majoritária. Pelo alto índice de rejeição dos candidatos principais torna-se mais fácil ainda para que o eleitorado experimente a opção de um novo nome. Apesar das nossas dificuldades operacionais em relação à conquista de fundos para bancar uma campanha eleitoral, estamos organizados e preparados.
Quem é

Vinícius Cordeiro, 44 anos, atual presidente regional do PT do B do Rio, disputa pela primeira vez uma eleição para prefeito, tendo como candidato a vice o servidor público federal Robson André. Foi eleito segundo suplente de deputado federal, pela coligação PTdoB/PSL - "Rio com mais amor", no pleito de 2006. Preside há mais de 12 anos o Diretório Regional do Estado do Rio, sendo ainda o 1º vice-presidente nacional do partido.

Em 1998 foi candidato ao Senado, conquistando cerca de 41 mil votos. Advogado militante há mais de 20 anos, Vinícius é especialista em direito eleitoral. É assessor parlamentar na Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), e também exerceu o cargo na Câmara Municipal do Rio.

Foi procurador-geral da Câmara Municipal de Japeri, na Baixada Fluminense, sub-secretário da Mesa da Câmara Municipal de Iguaba Grande, na Região dos Lagos, e assessorou prefeitos e vereadores de diversos municípios, inclusive na área do direito público. Atualmente, também ministra o curso de extensão de Direito Eleitoral na Universidade Cândido Mendes.

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