PT do ‘pós-Lula’ nasce domingo e tem a cara do Lula
José Cruz/ABr
Será escolhido no domingo (22), em eleição direta, o novo presidente do PT.
Há seis candidatos no páreo. Deve prevalecer José Eduardo Dutra, 52 anos.
Dutra é um petista de trajetória opaca. Deve-se a Lula sua entrada na disputa.
O presidente deseja ver Dutra no comando do PT por duas razões:
1. Ligado a Dilma Rousseff, não causará problemas à candidata oficial, em 2010.
2. Fabricado no Planalto, mantém no PT da era pós-Lula, em 2011, a cara de Lula.
Dutra pertence ao velho Campo Majoritário, grupo do presidente da República.
Depois do mensalão, passou a chamar-se Construindo um Novo Brasil.
Trocou de nome, não de métodos. Manteve a hegemônica e o pragmatismo.
Garantiu a eleição de Lula ao trocar a retórica socialista pelo realismo político.
Para viabilizar Dilma conserva a aliança pluripartidária que tem o PMDB como pilar.
Numa palavra, José Eduardo Dutra é a mão de Lula nas rédeas do PT.
Geólogo nascido no Rio, Dutra fez-se político em Sergipe.
Na década de 90, presidiu o Sindicato dos Mineiros de Sergipe e integrou a direção nacional da CUT.
Em 1990, disputou o governo do Estado. Perdeu. Quatro anos depois, arrancou das urnas sergipanas uma cadeira no Senado.
Em 2002, no ocaso de seu mandato de oito anos, tornou a aventurar-se na disputa pelo governo de Sergipe. Perdeu de novo.
Ganhou de Lula, em 2003, um fabuloso prêmio de consolação: a presidência da Petrobras.
Em 2007, primeiro ano do segundo mandato, Lula rebaixou-o a presidente da BR Distribuidora, o braço da Petrobras que vende gasolina no varejo.
Manteve-se na BR até agosto passado. Deixou o posto para embrenhar-se na disputa pela presidência do PT.
Em sua fase petroleira, Dutra manteve com Lula e também com Dilma uma relação de submissão administrativa.
Na direção do PT, vai manter o partido subordinado aos interesses de Lula.
São interesses óbvios: eleger Dilma e prover sustentação congressual para uma gestão que a própria candidata vende como o “terceiro mandato de Lula.
Além de Dutra, os filiados do PT –1,35 milhão, pela conta oficial— terão à disposição outros cinco candidatos.
O mais vistoso é o deputado José Eduardo Cardozo (SP). Corre na raia da Mensagem ao Partido.
Vem a ser uma dissidência do ex-Campo Majoritário. Tem como ideólogo o ministro Tarso Genro (Justiça).
O grupo nasceu nas pegadas do mensalão. Enrolado na bandeira da ética, aglutinou algo como 15% do partido.
Na origem, o grupo tinha dois objetivos: arrancar Ricardo Berzoini da presidência do PT e minar a liderança exercida pelo ex-ministro José Dirceu. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. Teve de contentar-se em acomodar Cardozo na secretaria-geral do partido.
Os outros candidatos são os deputados Geraldo Magela (DF), do Movimento PT; e Iriny Lopes (ES), da Articulação de Esquerda e da Militância Socialista.
Na rabeira da disputa estão Serge Goulart, da Esquerda Marxista; e Markus Sokol, da corrente O Trabalho.
O que dá a Dutra o semblante de favorito é a aliança que celebrou com outros dois grupos da engrenagem petista.
Ambos são ligados à ex-ministra Marta Suplicy: Novos Rumos e PT de Lutas e de Massas.
Estima-se que a aliança do ex-Campo Majoritário com os grupos que seguem a liderança de Marta acomodará no cesto de Dutra algo como 60% dos votos.
É o suficiente para que o candidato de Lula triunfe já no primeiro turno.
Não há no partido quem considere a sério a hipótese de a disputa escorregar para um segundo round, em dezembro.
Prevalecendo a matemática de Lula, Dutra tomará posse em fevereiro de 2011.
Um pedaço do partido advoga a tese de que o mandato de Ricardo Berzoini, o presidente atual, deveria ser encurtado.
O mais provável, porém, é que Dutra passe a dividir com Berzoini as negociações para a composição da mega-aliança que se pretende formar em torno de Dilma.
Assim, tudo leva a crer que, passada a primeira eleição presidencial que não terá o seu nome na cédula, Lula continuará ditando os rumos do PT.
Escrito por Josias de Souza às 05h32
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