quinta-feira, 5 de novembro de 2009

PT enrola o PMDB e mantém seus projetos estaduais

Em movimento deliberado, o PT empurra com a barriga a resolução dos impasses que sacodem suas relações com o PMDB nos Estados.

Sob holofotes, o petismo mostra-se receptivo às reivindicações. Nos subterrâneos, trama contra o parceiro.

A pretexto de apagar os incêndios que ardem nos Estados, lideranças das duas legendas reuniram-se nesta quarta (4), em Brasília.

A conversa girou como parafuso espanado. Retorceram-se todos os conflitos. Lero vai, lero vem, nenhuma pendência foi dissolvida.

Vem de Minas Gerais a encrenca que, por ser a mais grave, resume à perfeição o drama.

Ali, medem forças o pemedebê Hélio Costa e o petê Fernando Pimentel. Ambos se apresentam como candidatos ao governo mineiro.

Ministro das Comunicações de Lula, Hélio está mais bem-posto nas pesquisas. Escorado nos números, o PMDB cobra do PT apoio ao seu candidato.

O petismo simula concordância. E pede tempo. Enquanto aguarda, o PMDB é esfaqueado pelo PT de Pimentel.

Ex-prefeito de Belo Horizonte, segundo colocado nas sondagens eleitorais, Pimentel costura na seara petista e dá pontos no quintal do vizinho.

No PT, Pimentel tenta mandar a escanteio um adversário doméstico, Patrus Ananias, o ministro do Bolsa Família.

Os dois medem forças pelo controle do diretório mineiro do PT. A refrega está marcada para o próximo dia 25.

Estima-se que, nessa briga interna, Pimentel prevalecerá sobre Ananias. Teria algo como 55% dos votos que definirão a nova direção do PT-MG.

No quintal alheio, Pimentel alia-se, à sorrelfa, com o grupo do ex-governador Newton Cardoso, um pemedebê que se opõe a Hélio Costa.

Trama-se acomodar na presidência do PMDB-MG Adalclever Lopes, um deputado federal ligado a Newtão.

Ele disputa o controle da secção estadual do partido com o deputado federal Antônio Andrade, homem de Hélio Costa.

No plano nacional, PP e PMDB sustentam a tese de que as desavenças estaduais, por passageiras, não comprometem a aliança que os une no projeto Dilma-2010.

Não é bem assim. Para converter o noivado em casamento, o PMDB terá de aprovar o nome de Dilma Rousseff numa convenção nacional, em junho de 2010.

Os delegados que votam na convenção são escolhidos nos Estados. Vem de Minas a segunda maior delegação.

Entusiasta de Dilma, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara, antevê confusão:

“Minas tem a segunda maior votação na convenção do PMDB. São 69 delegados. Alguns tem direito a mais de um voto. Juntos, representam cerca de 140 votos...”

“...É uma temeridade jogar esse pessoal para o outro lado. Hélio Costa é ministro do presidente Lula. Portanto, a conversa tem que ser mais fácil”.

O “outro lado” a que se refere Henrique Alves é o pedaço do PMDB que se dispõe a apoiar o presidenciável tucano José Serra.

Em privado, Pimentel dá de ombros. Afirma aos dirigentes nacionais do PT que Hélio Costa não controla o PMDB mineiro. Se bobear, diz ele, nem será candidato.

Lula dissera à direção do PMDB que interviria nas refregas estaduais para impedir que os planos locais do PT conspurcassem o projeto nacional de Dilma.

Era lorota. Até aqui, o presidente não dirigiu uma palavra de desestímulo a Pimentel, um velho amigo de Dilma. Militaram juntos no grupo VAR-Palmares.

Lula tampouco interveio em outros Estados em que o PMDB e o PT servem veneno um ao outro.

Além de Minas, a cúpula pemedebê esperava que o presidente mostrasse sua mão forte no Rio, no Pará e no Mato Grosso do Sul.

No Rio, o petista Lindberg Farias apresenta-se como rival do pemedebê Sérgio Cabral, candidato à reeleição com ares de favorito.

Lula prometera empurrar Lindberg para a disputa ao Senado. E nada. No Pará, o pemedebê Jader Barbalho estranha-se com a petê Ana Julia. E nada de Lua.

No Mato Grosso do Sul, o governador André Puccinelli (PMDB), candidato à reeleição, é fustigado por Zeca do PT. Henrique Alves exaspera-se:

“O Puccinelli tem cerca de 45% nas pesquisas. O Zeca está com 14% ou 15%. Temos que chegar a um entendimento”.

Orestes Quércia, presidente do PMDB-SP e aliado de José Serra, percorre o país como um vírus anti-Dilma. Já se achegou a Puccinelli.

Diz-se que, aos olhos de hoje, há uma maioria pró-Dilma dentro do PMDB. Mas a coisa pode se a oposição virar dois dos diretórios convulsionados. Dificilmente vai-se entregar o tempo de TV do PMDB a José Serra.

Mas, ao brincar com o fogo, o PT acalenta o sonho da turma de Quércia, que já se dará por satisfeita se conseguir melar a entrega da vitrine eletrônica prometida a Dilma.

Escrito por Josias de Souza às 03h37

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