PT enrola o PMDB e mantém seus projetos estaduais
Em movimento deliberado, o PT empurra com a barriga a resolução dos impasses que sacodem suas relações com o PMDB nos Estados.
Sob holofotes, o petismo mostra-se receptivo às reivindicações. Nos subterrâneos, trama contra o parceiro.
A pretexto de apagar os incêndios que ardem nos Estados, lideranças das duas legendas reuniram-se nesta quarta (4), em Brasília.
A conversa girou como parafuso espanado. Retorceram-se todos os conflitos. Lero vai, lero vem, nenhuma pendência foi dissolvida.
Vem de Minas Gerais a encrenca que, por ser a mais grave, resume à perfeição o drama.
Ali, medem forças o pemedebê Hélio Costa e o petê Fernando Pimentel. Ambos se apresentam como candidatos ao governo mineiro.
Ministro das Comunicações de Lula, Hélio está mais bem-posto nas pesquisas. Escorado nos números, o PMDB cobra do PT apoio ao seu candidato.
O petismo simula concordância. E pede tempo. Enquanto aguarda, o PMDB é esfaqueado pelo PT de Pimentel.
Ex-prefeito de Belo Horizonte, segundo colocado nas sondagens eleitorais, Pimentel costura na seara petista e dá pontos no quintal do vizinho.
No PT, Pimentel tenta mandar a escanteio um adversário doméstico, Patrus Ananias, o ministro do Bolsa Família.
Os dois medem forças pelo controle do diretório mineiro do PT. A refrega está marcada para o próximo dia 25.
Estima-se que, nessa briga interna, Pimentel prevalecerá sobre Ananias. Teria algo como 55% dos votos que definirão a nova direção do PT-MG.
No quintal alheio, Pimentel alia-se, à sorrelfa, com o grupo do ex-governador Newton Cardoso, um pemedebê que se opõe a Hélio Costa.
Trama-se acomodar na presidência do PMDB-MG Adalclever Lopes, um deputado federal ligado a Newtão.
Ele disputa o controle da secção estadual do partido com o deputado federal Antônio Andrade, homem de Hélio Costa.
No plano nacional, PP e PMDB sustentam a tese de que as desavenças estaduais, por passageiras, não comprometem a aliança que os une no projeto Dilma-2010.
Não é bem assim. Para converter o noivado em casamento, o PMDB terá de aprovar o nome de Dilma Rousseff numa convenção nacional, em junho de 2010.
Os delegados que votam na convenção são escolhidos nos Estados. Vem de Minas a segunda maior delegação.
Entusiasta de Dilma, o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder do PMDB na Câmara, antevê confusão:
“Minas tem a segunda maior votação na convenção do PMDB. São 69 delegados. Alguns tem direito a mais de um voto. Juntos, representam cerca de 140 votos...”
“...É uma temeridade jogar esse pessoal para o outro lado. Hélio Costa é ministro do presidente Lula. Portanto, a conversa tem que ser mais fácil”.
O “outro lado” a que se refere Henrique Alves é o pedaço do PMDB que se dispõe a apoiar o presidenciável tucano José Serra.
Em privado, Pimentel dá de ombros. Afirma aos dirigentes nacionais do PT que Hélio Costa não controla o PMDB mineiro. Se bobear, diz ele, nem será candidato.
Lula dissera à direção do PMDB que interviria nas refregas estaduais para impedir que os planos locais do PT conspurcassem o projeto nacional de Dilma.
Era lorota. Até aqui, o presidente não dirigiu uma palavra de desestímulo a Pimentel, um velho amigo de Dilma. Militaram juntos no grupo VAR-Palmares.
Lula tampouco interveio em outros Estados em que o PMDB e o PT servem veneno um ao outro.
Além de Minas, a cúpula pemedebê esperava que o presidente mostrasse sua mão forte no Rio, no Pará e no Mato Grosso do Sul.
No Rio, o petista Lindberg Farias apresenta-se como rival do pemedebê Sérgio Cabral, candidato à reeleição com ares de favorito.
Lula prometera empurrar Lindberg para a disputa ao Senado. E nada. No Pará, o pemedebê Jader Barbalho estranha-se com a petê Ana Julia. E nada de Lua.
No Mato Grosso do Sul, o governador André Puccinelli (PMDB), candidato à reeleição, é fustigado por Zeca do PT. Henrique Alves exaspera-se:
“O Puccinelli tem cerca de 45% nas pesquisas. O Zeca está com 14% ou 15%. Temos que chegar a um entendimento”.
Orestes Quércia, presidente do PMDB-SP e aliado de José Serra, percorre o país como um vírus anti-Dilma. Já se achegou a Puccinelli.
Diz-se que, aos olhos de hoje, há uma maioria pró-Dilma dentro do PMDB. Mas a coisa pode se a oposição virar dois dos diretórios convulsionados. Dificilmente vai-se entregar o tempo de TV do PMDB a José Serra.
Mas, ao brincar com o fogo, o PT acalenta o sonho da turma de Quércia, que já se dará por satisfeita se conseguir melar a entrega da vitrine eletrônica prometida a Dilma.
Escrito por Josias de Souza às 03h37
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