Temer: Pré-compromisso com Dilma não sofre riscos
Lúcio Távora/Folha
Michel Temer disse ao blog que recebe com “naturalidade” a abertura do debate sobre a hipótese de o PMDB lançar um presidenciável próprio.
Presidente da Câmara e fiador do acordo pré-nupcial que aproximou o PMDB do altar de Dilma Rousseff, a candidata do PT, Temer afirma:
“O pré-compromisso [de apoio a Dilma] está firmado muita solidamente. Não há nenhum titubeio. Pelo que observamos, não sofre riscos”.
A despeito do timbre peremptório utilizado por Temer, um pedaço do PMDB decidiu reunir-se sob o pretexto de buscar uma alternativa a Dilma. Deve-se a iniciativa ao governador do Paraná, Roberto Requião. Ele inaugurou um movimento que tem o propósito declarado de empinar uma candidatura do PMDB.
Iniciado nos subterrâneos, o debate ganhará publicidade neste sábado (21), num encontro em Curitiba. Prometeram acorrer à capital paranaense os dirigentes de pelo menos dez dos 27 diretórios Estaduais do partido: SP, MG, RJ, RS, PR, SC, MS, ES, SE e PI.
Os organizadores estimam que o número pode crescer para 15. Espera-se que compareçam também três dos oito governadores do PMDB. Além de Requião, que faz as vezes de anfitrião, devem participar Luiz Henrique, de Santa Catarina; e André Puccinelli, do Mato Grosso do Sul. A coisa será transmitida ao vivo, na web.
Convidado, Temer disse que não prestigiará o encontro. “Não vou poder comparecer. Mas não há nisso nenhuma objeção à reunião”, disse o deputado. “Vejo com naturalidade e acho até úteis essas reuniões do PMDB. Ajudam a mobilizar o partido para a eleição do ano que vem...”
“...Como as coisas acabam se definindo apenas na convenção nacional, marcada para junho de 2010, é claro que nós temos muito tempo pela frente”. No dizer de Temer, ocorre em Curitiba “apenas mais uma reunião”. Lembrou que o grupo comprometido com Dilma também realiza os seus encontros:
“Designei oito pessoas PMDB. Tem outras sete do PT. Já se encontraram uma vez e voltam a se encontrar no dia 25, para ir ajustando a situação nos Estados”. Curiosamente, a lista de diretórios cujos presidentes aceitaram tomar parte da reunião curitibana inclui Estados nos quais o PMDB parece pender para Dilma.
Entre eles Minas e Rio. No primeiro, o PMDB concorrerá ao governo com o ministro Hélio Costa (Comunicações). No outro, tentará reeleger Sérgio Cabral. Em ambos o PT ainda não executou o movimento exigido pelo PMDB: a retirada das candidaturas de Fernando Pimentel, em Minas, e de Lindberg Farias, no Rio.
O repórter perguntou a Temer: a presença desses diretórios num encontro que tem a candidatura própria como pano de fundo pode significar uma reação ao PT? E ele: “É até natural que aconteça isso que você está dizendo. Enquanto não há a solução definitiva dos Estados, é claro que cada um vai tomando suas posições”.
O presidente da Câmara parece confiar, porém, na parceria com o PT. “No Rio, há uma solução quase sacramentada. O Cabral é muito ligado ao Lula. Quanto a Minas, deve-se lembrar que o Hélio Costa é ministro do Lula. Lá também está havendo um esforço para fazer o acordo com o PT”.
Temer repetiu: “Enquanto isso não acontecer, é natural que haja mobilização de alguns setores. Eu vejo isso com muita tranqüilidade”. Mencionou também o caso do Mato Grosso do Sul. Ali, o governador Puccinelli tentará reeleger-se.
“O acordo depende apenas de conversas com o Zeca do PT”, disse Temer. “Soube que o Puccinelli talvez não vá a Curitiba. Não sei vai nem o presidente do diretório”. A julgar pelo teor de um texto levado ao portal do PMDB-MS, a dupla irá:
“Mato Grosso do Sul tem posição firmada por candidatura própria. Estará representado na reunião pelo governador André Puccinelli e pelo presidente do diretório estadual, Esacheu Nascimento”.
Vão a Curitiba também grão-pemedebês que estão fechados com a candidatura presidencial de José Serra (PSDB). São dois os serristas mais notórios: Orestes Quércia, presidente do PMDB-SP, e Luiz Henrique, o governador catarinense.
O PMDB-SC, a propósito, também levou à web um texto: “O objetivo do encontro é formular propostas ao programa do PMDB para as eleições presidenciais de 2010. A discussão da candidatura própria do partido é o principal assunto da reunião”.
Mas o que fazem os defensores de Serra num debate sobre “candidatura própria”. Simples: tentam embaralhar o pré-acordo que dá a Dilma o tempo de TV do PMDB. Ouça-se, de novo, Temer: “Não creio que o nosso encaminhamento sofra riscos. O pré-compromisso caminha a passos largos para ser um compromisso definitivo...”
“...Não gostaria de quantificar [o grupo pró-Dilma], mas posso afirmar que a maioria na convenção a favor da aliança com o PT é ampla. Se resolvermos as pendências de Minas e Mato Grosso do Sul, se aproximará da totalidade”.
O senador Pedro Simon, presidente do PMDB-RS, vai a Curitiba com o ânimo de lançar Requião como presidenciável do partido. Temer disse ter conversado, dias atrás, com o próprio Requião.
“Ele me disse: ‘precisamos ter um programa para apresentar. Eu perguntei: Acha que deve ter candidatura própria, você é candidato? E ele: Não, eu vou com a Dilma”.
O diabo é que, nos pronunciamentos feitos no diretório paranaense do partido, ouve-se um outro Requião: “Eu não quero estabelecer uma polêmica com o diretório nacional do PMDB...”
“...Mas a nossa intenção, junto com outras seções do PMDB do Brasil inteiro, é começarmos a montar um programa de governo. Aí sim nós vamos para a convenção. E quando eles disserem coligação ou não coligação, nós vamos dizer:...
“...Em primeiro lugar, para quê? e para quem? Depois que nós estabelecermos um programa de governo, nós vamos discutir se temos um candidato ou se para a execução desse programa de governo, nós podemos ter uma coligação”.
Como se vê, o acerto com Dilma percorrerá um terreno acidentado até ser consolidado na convenção de junho de 2010 pela maioria "ampla" anteista por Temer.
Escrito por Josias de Souza às 05h19
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