terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um partido amorfo, insosso e inodoro (Carlos Chagas)

BRASÍLIA – Por sugestão do senador Pedro Simon, reúne-se esta semana os senadores do PMDB, ainda não para escolher quem será o candidato da bancada à presidência do Senado, mas para tentar uma ordenação do partido frente aos próximos lances político-eleitorais, com ênfase para a sucessão de 2010. O encontro poderá constituir-se numa preliminar para outro mais amplo, com a presença de integrantes do Diretório Nacional e das seções estaduais. A premissa é de constituir-se o PMDB na maior força política nacional, necessitando ocupar espaços dignos de sua liderança, quaisquer que venham a ser as definições de rumos.

O que não dá, acentua Simon, é ver o partido amorfo, insosso e inodoro, a reboque dos acontecimentos. Suas críticas não poupam o presidente Michel Temer, que em suas palavras só pensa na candidatura à presidência da Câmara, trabalhando exclusivamente em função dela. A hora é de os senadores tomarem a frente, promovendo amplo debate a respeito do que fazer. Por exemplo:

Ter ou não ter candidato próprio à sucessão do presidente Lula? Continuar apoiando o governo naquilo que inegavelmente vem realizando de positivo, mas por que não participar ativamente de suas decisões? Dispor de seis ministros sem contribuir para as definições maiores na economia, na política e na administração será o caminho? Posicionar-se de que forma diante da crise econômica, engajar-se na realização de que tipo de reforma política e tributária?

O PMDB, para o senador gaúcho, necessita fazer valer a sua força, ainda recentemente comprovada nas eleições municipais, onde obteve o dobro da votação nacional do PT.

Essas considerações foram feitas por ele num dos mais densos discursos do semestre, no Senado, na última sexta-feira, ironicamente num plenário vazio, onde apenas dois senadores permaneciam: Mão Santa, presidindo a sessão, e Renan Calheiros.

Simon chamou a atenção de quantos estavam sintonizados na rádio e na TV Senado para o fato de poder e dever o PMDB assumir a liderança do processo político nacional, até mesmo diferenciando-se dos demais partidos por não viver crises e divisões internas. O que se registra é a inação, a inércia, a falta de iniciativa.
Vai renunciar?

Coincidência ou não, os rumores são de que Michel Temer poderá licenciar-se da presidência do PMDB, nos próximos dias, passando as funções à deputada Íris Araújo, primeira vice-presidente. O parlamentar paulista dedicar-se-ia exclusivamente à sua candidatura à presidência da Câmara, devendo, se eleito a 2 de fevereiro, renunciar, convocando antes o Diretório Nacional ou até uma convenção extraordinária, para a escolha do presidente definitivo.

Apesar de ter tido seu mandato prorrogado, bem como de todos os dirigentes regionais, Temer vê esvair-se a hipótese de tornar-se bipresidente. O problema, para ele, é não poder comprometer-se com nenhum dos pretendentes à sua vaga, iniciativa que prejudicaria as pretensões para suceder Arlindo Chinaglia. Além de Íris Araújo, ex-esposa do prefeito de Goiânia e ex-governador de Goiás, Íris Resende, colocam-se o senador Romero Jucá, líder do governo no Senado, o deputado Eliseu Padilha, do Diretório Nacional, e o presidente de honra do PMDB, Paes de Andrade.

Equilibrando-se entre esses e outros, Michel Temer precisa de todos. Já recebeu o apoio formal do PT e do próprio presidente Lula, mas necessita do PMDB unido.
Permanece o impasse

Quanto à presidência do Senado, permanece o impasse. Ainda que o líder do governo, Romero Jucá, do PMDB, junto com o presidente do partido, Michel Temer, tentem levar a bancada peemedebista a não lançar candidato e a apoiar Tião Viana, do PT, o racha parece cada vez mais próximo. Afinal, os senadores do PMDB são vinte, dos quais quatorze querem um candidato próprio. Não aceitam apoiar alguém do PT, que só dispõe de doze senadores. Dão de ombros para o compromisso celebrado à sombra do palácio do Planalto, de que o PMDB fica com a presidência da Câmara e o PT, com a do Senado.

O diabo é saber quem será o escolhido. José Sarney seria o nome de consenso, mas permanece negando a possibilidade. Pedro Simon foi cogitado, mas sua independência trabalha contra. Romero Jucá, que parece estar em todas, mais divide do que une a bancada. Já se cogitou do retorno dos ministros Hélio Costa, da Comunicações, e Edison Lobão, das Minas e Energia, para concorrerem, mas eles preferem ficar onde estão, base bem mais sólida para suas candidaturas aos governo do Maranhão e de Minas.
(Tribuna da Imprensa Online)