terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"Ele é assim mesmo..." (Carlos Chagas)

BRASÍLIA - Foi barro no ventilador. Sobrou para quase todo mundo, no PMDB e fora dele. A pergunta que se fazia ontem, em Brasília, era a respeito dos motivos que teriam levado o senador Jarbas Vasconcelos a conceder contundente entrevista à revista "Veja".

Posicionar-se como candidato à vice-presidência na chapa de José Serra não foi, porque do jeito como demoliu dirigentes e parlamentares do seu partido não leva ninguém com ele. Reforçar sua candidatura a governador de Pernambuco, também não, pois, ao final de suas declarações, rejeitou a hipótese. Bancar o D. Quixote do sertão quando nem moinhos de vento existem por lá? Vingar-se por haver sido o único voto do PMDB dado a Tião Viana seria inócuo. Aproximar-se do presidente Lula, da mesma forma negativo, pois não poupou o PT e o próprio companheiro-mor, a quem, em suas palavras, faltam compromissos com reformas e com a ética.

Os poucos pernambucanos da intimidade do ex-governador não concluíam. Apenas registravam que "o Jarbas é assim mesmo". Nos tempos do MDB, vivia às turras com o dr. Ulysses e com Tancredo Neves. Irritava-se com os "autênticos", acusando-os de falta de autenticidade. Brigou com Miguel Arraes. Agora mesmo, atropelou Pedro Simon e Mão Santa, senadores do PMDB que mais poderiam aproximar-se dele.

A falta de objetivos visíveis para essa cavalgada solitária não impede a concordância com parte do mérito de suas críticas, mesmo exageradas. No fundo, tem muita gente no PMDB que só pensa em ocupar cargos no governo para fazer negócios e ganhar comissões. Existem os especializados na manipulação de licitações, contratações dirigidas e corrupção em geral. Mas nivelar o partido inteiro nessas práticas é demais. Como demais será afirmar que o ex-presidente José Sarney transformará o Senado num grande Maranhão.

A equação fica inconclusa pela falta, até hoje, de uma chave capaz de decifrar a cascata de virulências do senador por Pernambuco. Pode ser que não exista nenhuma explicação e que os raros amigos de Jarbas Vasconcelos estejam com a razão: ele é assim mesmo. Igual à natureza, que de quando em quando promove tempestades infernais, alagamentos desproporcionais, erupções, terremotos e tsunamis imensos. Ao PMDB, ao governo, a Sarney e outros atingidos só resta superar os agravos, claro que longe da tentação de expulsar o senador, da mesma forma como a ninguém será dado banir a natureza. Ela é assim mesmo...
Depois do Carnaval

Certo ou errado, a verdade é vai parando tudo, desde já. "Depois do Carnaval" virou chavão não apenas para o serviço público, mas para as atividades empresariais, sindicais, intelectuais, artísticas e outras. Não se atinja apenas o Congresso, face mais visível das instituições, pela inação já iniciada e que se estenderá para além da quarta-feira de cinzas. Aproveitando o mote da nota anterior, vale apenas registrar que "o Brasil é assim mesmo".

A dúvida consiste em saber se entrarão em pauta, na Câmara e no Senado, os polêmicos projetos prometidos por José Sarney e Michel Temer. Ou se o Supremo Tribunal Federal decidirá, em tempo útil, a demarcação da reserva indígena Raposa-Serra do Sol, se mandará ou não para a Itália o terrorista preso por aqui ou se agilizará o processo contra os quarenta ladrões do mensalão. Da mesma forma, se as obras do PAC deixarão os palanques e as medidas destinadas a conter a crise econômica interromperão as demissões em massa.

"Depois do Carnaval" viveremos um novo país? Quem quiser que conclua...
Se não é campanha, parece...

De viva voz, a ministra Dilma Rousseff recebeu elogios do presidente Lula em palanques do Nordeste, quinta-feira e na manhã de sexta, durante inauguração de obras. Foi apresentada como exemplo de competência administrativa. Depois, voou para o Rio Grande do Sul, discursando em São Leopoldo e Nova Hamburgo, ao anunciar novas iniciativas do PAC.

Efusivamente saudada, registre-se. Conseguiu chegar a São Paulo, horas mais tarde, para ser homenageada pelo PT em jantar na casa de Marta Suplicy. Lá, comentou que o Brasil está maduro para ter uma mulher como presidente da República. Palmas para todo lado, a começar pelo presidente do partido, Ricardo Berzoini. Se não é campanha, parece.

Nada há que opor à movimentação da chefe da Casa Civil, acompanhando o presidente ou isolada. Se o governo não mostra o que faz ou o que quer fazer, não serão as oposições a ocupar o seu lugar. Em especial se o objetivo é manter o poder e enfrentar as eleições do ano que vem.

Só não dá para dizer que não estão em campanha. Porque estão. E quem quiser que faça o mesmo, como fez o governador José Serra na mesma sexta-feira eleitoral, indo ao Paraná para participar de uma festa rural na cidade de Cascavel. Lá, ele declarou que o dever de todos os governantes é administrar bem, por enquanto sem fazer campanha. O governador Roberto Requião não terá gostado de ver o colega paulista administrando um evento em seu estado...
Ganhem, mas paguem, também

A moda vem do tempo dos governos militares, mas foi depois, com a redemocratização, que virou praga. A pretexto de reagir às críticas da imprensa e do empresariado sobre o inchaço e os gastos sempre maiores no serviço público, Executivo, Legislativo e Judiciário aderiram às chamadas terceirizações.

Começaram no setor da limpeza e da segurança, através de empresas privadas que se encarregavam de contratar, pagar, fiscalizar e apresentar serviços. Feito sarampo, a prática pegou, pois ficava mais cômodo ao poder público não enfrentar reclamações, indenizações e até greves de funcionários, que deixaram de ser deles. Até serviços de imprensa e de divulgação foram loteados pelos ministérios e tribunais.

O diabo é que, como estamos no Brasil, logo os excessos viraram regra. As empresas passaram a cobrar horrores, mas, na maioria dos casos, a remunerar mal e a dar o calote em seus empregados. Mas faturando tanto que até castelos seus proprietários construíram, para não falar nos montes de mansões, aviões particulares e modos de vida milionários financiados pelos cofres públicos.

Basta percorrer a Esplanada dos Ministérios, a Praça dos Três Poderes e a Praça dos Tribunais, em Brasília, para se ter a noção de quanto o estado abdicou de suas atribuições. Só falta aparecerem ministros, juízes e parlamentares terceirizados, quer dizer, indicados pelas empresas de prestação de serviços.

De uns anos para cá, a situação piorou, sendo que muitas dessas empresas não pagam os empregados, atrasam por meses seus salários e cobram sempre mais do poder público. Claro, há exceções, mas poucas

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

PSDB e DEM se reúnem para reavaliar planos de 2010



Busca-se uma forma de reagir à ‘superexposição’ de Dilma

Carol Guedes/Folha
As cúpulas do PSDB e do DEM marcaram para depois do Carnaval um encontro de cúpula. Deve ocorrer no dia 5 de março, em São Paulo.



Vão à mesa os planos para a sucessão presidencial de 2010. Pretende-se reavaliar a estratégia, apressando o passo.



Tucanos e ‘demos’ tentam reagir à movimentação “prematura” de Lula. Estão inquietos com a súbita conversão de Dilma Rousseff de ministra em candidata.



Com dois postulantes ao Palácio do Planalto –José Serra e Aécio Neves—, a oposição assiste à ocupação solitária do noticiário por Dilma. Daí o incômodo.



A necessidade de estabelecer um contraponto à candidata de Lula faz crescer o movimento pela precipitação do desfecho da disputa entre Serra e Aécio.



Há nítida preferência no andar de cima das duas legendas pelo nome de Serra, mais bem-posto nas pesquisas.



Mas todos, a começar de Serra, parecem já ter compreendido os recados de Aécio: o governador de Minas precisa ser convencido, não vencido.



Avalia-se que, se for à disputa sem Aécio, um governador aprovado por cerca de 80% do segundo maior colégio eleitoral do país, Serra será um candidato à derrota.



Aécio bate o pé. Quer que a definição do PSDB se dê por meio de prévias. Serra e seus aliados torcem o nariz.



Mas à falta de um entendimento, mesmo os políticos pró-Serra do DEM começam a se conformar com a necessidade das prévias.



Inicialmente, trabalhava-se com a idéia de cozinhar a escolha do candidato em banho-maria até o final de 2009.



Porém, a movimentação de Lula faz ferver a mistura da oposição. E já há gente pregando que as prévias, se inevitáveis, devem ser feitas ainda no primeiro semestre.



Deve-se o agendamento do encontro de São Paulo a uma iniciativa do DEM. A legenda decidiu reunir o seu conselho político.



Trata-se de uma instância partidária presidida pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab. Congrega do presidente de honra Jorge Bornhausen aos líderes no Congresso.



No mesmo dia, os ‘demos’ irão ao encontro do grão-tucanato: FHC, presidente de honra do PSDB; Sérgio Guerra, presidente nacional; e outras lideranças.



Inicialmente, apenas o presidenciável José Serra participaria desse convescote tucano-democrata. Para não envenenar o pudim, planeja-se agora endereçar um convite a Aécio.



O governador mineiro terá de ser persuadido também da conveniência de antecipar os planos da oposição.



Em privado, Aécio diz que o PSDB erra ao condicionar sua estratégia ao vaivém de Lula e Dilma.



Para Aécio, a simples definição das regras das prévias, algo que lhe foi prometido para março, acomodaria a disputa que o opõe a Serra num leito de normalidade.



De resto, Aécio acha que a campanha interna, com a eventual realização de debates entre ele e Serra, surtirá dois efeitos benfazejos.



Primeiro, evitará os acertos de cúpula que fizeram desandar as candidaturas tucanas em 2002 e 2006.



Depois, levará a oposição a ocupar as manchetes da forma correta, pendurando nas manchetes não as picuinhas internas, mas as propostas alternativas ao projeto representado por Dilma.



O diabo é que, por ora, o tucanato não foi capaz nem sequer de esboçar essa pretensa alternativa. Serra e Aécio, aliás, têm cara de muita coisa, menos de oposicionistas.

Escrito por Josias de Souza às 05h26