terça-feira, 13 de novembro de 2012

Hegemonia tucana em SP está ameaçada, diz analista


13 de novembro de 2012 | 16h 37
 
AE - Agência Estado
No comando do Estado de São Paulo desde a eleição de Mário Covas como governador, em 1994, o PSDB nunca viu a manutenção da administração paulista tão ameaçada como agora. Essa é a avaliação do cientista político, professor e vice-coordenador do curso de administração pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Marco Antônio Teixeira, que aponta dois fatores como justificativa: a estratégia de disputa eleitoral focada em lideranças mais experientes, sem a renovação dos quadros do partido e a crise de segurança pública que o Estado está enfrentando. "O efeito negativo do prolongamento da crise na área de segurança sobre as eleições estaduais tende a ser devastador em termos eleitorais", avaliou Carvalho Teixeira, dizendo ainda que a crise deixou o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) "paralisado" e em posição "reativa" aos ataques do crime organizado.


Ao avaliar o desempenho dos tucanos e seus aliados (PTB, DEM e PPS) nas eleições municipais deste ano, o cientista político ressaltou que esses partidos perderam representação no Estado. Em comparação, ele cita que o PT evoluiu, especialmente entre os municípios de maior porte populacional. "Nas eleições de 2012, o PSDB elegeu 173 prefeitos ante 201 em 2008, o que representou um decréscimo de 14%. Nos 10 municípios de maior porte, o partido elegeu prefeitos em apenas dois (Sorocaba e Santos) e viu seu principal adversário político (o PT) eleger o chefe do executivo em seis (dessas, apenas Ribeirão Preto e Campinas não serão administradas por PT ou PSDB)", afirmou.

Para o vice-coordenador do curso de administração pública da FGV, os tucanos também terão dificuldade em ampliar seu leque de alianças para as eleições estaduais de 2014. Atualmente, PPS, DEM e PTB são seus principais aliados. "O PSD sinaliza uma aproximação com o PT. A postura do PSB, partido que se aliou tanto ao PT em São Paulo como ao PSDB em Campinas, também é uma incógnita. O PP parece fortalecer a aliança com o PT, o apoio a (Fernando) Haddad (prefeito eleito de São Paulo) indica esse caminho. Por mais que o PDT paulista tenha apoiado Serra nas últimas eleições municipais, a conjuntura nacional tende a manter esse partido na aliança com os petistas", argumenta.

Outro fator que, na opinião de Carvalho Teixeira, também ameaça a reeleição de Alckmin é a divisão do partido com relação a ideia de algumas lideranças tucanas em colocar o ex-governador José Serra na presidência nacional do PSDB. "A condução de Serra ao posto máximo de comando da legenda tucana pode ter efeito desagregador, como ocorreu com a sua entrada tardia como candidato a prefeito", apontou, lembrando que Serra não abriu seu palanque para o senador Aécio Neves (PSDB-MG) nas últimas eleições municipais em São Paulo.

Para o cientista político, a "luz amarela" que acendeu para o PSDB em São Paulo prejudica, inclusive, o plano nacional do partido para as próximas eleições presidenciais, capitaneado por Aécio Neves. "Se ele não contar com o PSDB e aliados fortes em São Paulo, a sua candidatura presidencial em 2014 pode se inviabilizar. Dos cerca de 140 milhões de eleitores brasileiros, mais de 30 milhões (22%) residem em território paulista. Se a vitória de Dilma em Minas Gerais em 2010 foi considerada uma peça-chave para a derrota de José Serra em razão do baixo desempenho do tucano naquele Estado, o mesmo pode ocorrer de maneira invertida em 2014: um bom desempenho de Aécio em seu território poderá ser anulado por uma possível fragilidade eleitoral do PSDB junto aos eleitores paulistas", concluiu.

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sexta-feira, 9 de novembro de 2012


Dilma divide PSB em dois: Campos e os Gomes

Após reunir ao redor da mesa do Alvorada as cúpulas do PT e do PMDB, na noite de terça-feira, Dilma Rousseff dedicou as 48 horas seguintes ao emergente PSB. Neste caso, preocupou-se em dividir. Na quarta, jantou com o governador de Pernambuco Eduardo Campos, que preside a legenda. Nesta quinta, almoçou com o governador cearense Cid Gomes e com o irmão dele, Ciro Gomes.

Por que Dilma não fez uma refeição única para o PSB? Uma liderança do PT vinculada a Lula explicou a lógica da separação de pratos. Disse que, hoje, há dois PSBs. O dos irmãos Gomes procura a luz no fim do túnel da relação com o governo e o PT. O de Eduardo Campos suspeita que já não haja nem túnel.
Em português claro: Eduardo equipa-se para disputar a Presidência da República. Deixa no ar a hipótese de levar o bloco à rua em 2014, contra Dilma. Cid e Ciro gritam “alto lá!” Defendem o apoio do PSB à reeleição de Dilma. Projeto presidencial, se for o caso, só em 2018. O que são quatro anos para um político jovem como Eduardo?, a dupla se pergunta.
Afinada com Lula, com quem se reuniu na tarde de terça, Dilma dispensou às duas alas do PSB a mesma cortesia. Tratou todo mundo como aliado. Mas deixou antever que não ignora a divisão. Agora, observará os movimentos. Mantida a divisão, prestigiará um lado e tentará asfixiar o outro.
O jantar com Eduardo teve três testemunhas: Roberto Amaral, vice-presidente do PSB; Rui Falcão, presidente do PT; e a ministra petista Ideli Salvatti, coordenadora política do Planalto. Dilma tratou com naturalidade o fato de o PSB ter disputado várias prefeituras contra candidatos do PT. É “normal” e “legítimo” que um partido político queira crescer, disse.
Para evitar indigestões, a presidente evitou levar 2014 à mesa. Ateve-se ao presente. Pregou a conveniência de desarmar os palanques e seguir em frente. Repisou algo que dissera à turma do PMDB e do PT: há trabalho pela frente. Repetiu também o lero-lero segundo o qual convém aos partidos aprovar dois ou três tópicos essenciais de uma reforma política.
Aos irmãos Gomes, Dilma declarou que não deseja senão pacificar as relações entre PSB e PT, calando os “ruídos”. Cid mostrou-se grato à anfitriã por ela ter atendido ao seu pedido de não se meter na disputa em que o seu PSB prevaleceu sobre o PT em Fortaleza. Coisa diversa do que fez Lula. Nessa refeição, mastigou-se 2014. Ficou claro que, entre Dilma e Eduardo, o PSB do Ceará ficará com a reeleição da anfitriã.
No início da semana que vem, Dilma cuidará do PSD. Deve receber o prefeito paulistano Gilberto Kassab, presidente da legenda. Num eventual projeto presidencial de Eduardo Campos, o tempo de tevê da legenda de Kassab é matéria prima essencial. Vem daí o interesse de Dilma de levar o PSD à Esplanada dos Ministérios, incorporando-o à sua caravana reeleitoral já no alvorecer de 2013.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dilma diz a PT e PMDB que, antes de 2014, o governo tem dois anos de trabalho pela frente (Josias de Souza)

Em jantar com dirigentes e ministros do PT e PMDB, no Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff evitou traçar planos para a sucessão presidencial. Disse que, antes de 2014, o governo tem dois anos de “muito trabalho” pela frente. Enalteceu a parceria entre os dois maiores partidos de sua coligação. Declarou que a junção funcionou no governo, no Legislativo e também nas eleições municipais de 2012.
Lula também esteve no Alvorada na tarde desta terça (6). Mas preferiu não participar do jantar. Achou que sua presença poderia ser mal compreendida. Teve receio de que dissessem que estava querendo se sobrepor à autoridade da presidente. Conversou com Dilma por cerca de três horas. Analisou com ela a conjuntura pós-eleitoral. Ajudou a alinhavar a retórica que seria desfiada no jantar. E foi embora.
Afora a anfitriã, estiveram no repasto do Alvorada 19 pessoas, entre senadores, deputados e ministros (veja lista no rodapé). O blog conversou com três dos comensais de Dilma. Vai abaixo um resumo em dez atos do que se passou:
1. Eleições municipais: O encontro começou no salão de estar do Alvorada. Dilma abriu a conversa com uma análise sobre as eleições para prefeitos. Celebrou o fato de as disputas não terem produzido prejuízos para a “boa convivência” das legendas que apoiam o governo no Congresso. Os presidentes do PT, Rui Falcão, e do PMDB, Valdir Raupp, despejaram números sobre o tapete. Dilma considerou que os dois partidos tinham muito a comemorar. Juntos, saíram das urnas com uma sólida base municipal, comentou.
2. São Paulo e Chalita: Dilma realçou a “importância” das alianças que o PMDB fez com seu partido. Deu especial ênfase ao apoio do candidato derrotado Gabriel Chalita ao petista Fernando Haddad, prefeito eleito de em São Paulo. Não foi uma adesão qualquer, ela disse. Chalita envolveu-se na campanha, ajudou a construir a vitória do PT, completou. Patrono da candidatura de Chalita, o vice-presidente Michel Temer assentia com movimentos de cabeça. Parte da audiência deixou o Alvorada com a sensação de que Chalita é um ministro esperando para acontecer.
3. Belo Horizonte: Dilma declarou que os acertos com o PMDB foram importantes mesmo em praças em que o PT saiu derrotado. Concentrou-se em Belo Horizonte. Para ela, o infortúnio de Patrus Ananias na capital mineira teve gosto de vitória. Por quê? Graças à votação do ex-ministro do Bolsa Família, o PT saiu das urnas maior do que entrou. Sabíamos que seria difícil derrotar Márcio Lacerda (PSB), afirmou a presidente. Mas o enfrentamento tornou-se incontornável. Sem mencionar o nome do tucano Aécio Neves, Dilma insinuou que, ao coabitar a primeira gestão de Lacerda com o PSDB, o PT como que condenou-se à sombra. A aliança com o PMDB produziu, segundo ela, um promissor realinhamento de forças em Belo Horizonte.
4. A bajulação de Sarney: o presidente do Senado interveio a certa altura para bajular Dilma. Disse que os partidos deviam o bom desempenho nas urnas à anfitriã. Não quero fazer rasgação de seda, afirmou José Sarney. Em seguida, rasgou: o sucesso eleitoral se deve à sua popularidade, ao reconhecimento do seu governo na sociedade, disse o morubixaba do PMDB. A gente deve isso à boa aceitação da sua administração, acrescentou o senador.
5. Reforma política: Dilma afirmou que os partidos precisam aproveitar o bom momento para avançar no Legislativo. Curiosamente, não mencionou os projetos que interessam mais diretamente ao seu governo. Discorreu sobre a reforma política. Abstendo-se de mencionar o mensalão, que o PT chama de “caixa dois”, a presidente foi enfática: passa da hora de reformar a legislação eleitoral. Ela se dispôs a ajudar. Não faz questão de ser protagonista. Fará o que o Congresso achar que lhe cabe fazer. Se quiserem que o Planalto mande um projeto, será enviado. Se avaliarem que o governo não deve se meter, assim será feito. O essencial, repisou Dilma, é avançar. O avanço virá, na opinião dela, se os partidos abandonarem os projetos ambiciosos. Acha que o melhor seria selecionar dois ou três tópicos realmente prioritários. Não desceu aos detalhes.
6. Os afagos no vice: na sua intervenção mais efetiva ao longo da conversa, Michel Temer sugeriu a Dilma que promovesse encontros como o da noite passada com os outros partidos do condomínio governista. A sugestão foi prontamente acatada por Dilma. Sem precisar datas nem formatos, a presidente afirmou que convidará ao Alvorada todas as legendas que a apoiam. Sem exceções. Ao longo da conversa, a presidente brindou Temer com referências elogiosas. Enalteceu-o ao referir-se ao “êxito” da participação do PMDB no governo. Alisou-o ao agradecer a mão estendida do PMDB em Belo Horizonte. Afagou-o ao valorizar a rápida adesão do PMDB no segundo turno da disputa municipal de São Paulo.
7. 2014: embora não haja dúvida de que Dilma será candidata à reeleição, o ano de 2014 não foi mencionado na conversa senão de forma lateral. Em timbre de brincadeira, o ministro petista Aloizio Mercadante (Educação) sugeriu que PT e PMDB esboçassem desde logo o plano sucessório, definindo as alianças nos Estados. O senador Valdir Raupp, presidente do PMDB, deu asas ao chiste: nós ficamos com 23 Estados e deixamos uns quatro para o PT, disse, entre risos. Espremendo-se as intervenções feitas sobre o tema, chegou-se à conclusão de que não convém nem colocar a carroça de 2014 adiante dos bois nem ignorar as evidências de que o jogo começou. Falando a sério, Dilma afirmou que, antes da reeleição, vem o trabalho. Muito trabalho, disse ela, referindo-se aos dois anos de gestão que lhe restam. Soou otimista. Disse que são alvissareiros os indicadores de 2013. Não fez referência explícita à reedição da chapa Dilma-Temer. A manutenção ficou subentendida nas menções benfazejas que ao PMDB e ao vice. O nome de Eduardo Campos, o neopresidenciável do quase ex-governista PSB, não foi citado uma mísera vez no Alvorada.
8. Câmara e Senado: a eleição para as presidências da Câmara e do Senado tampouco foi um tema proeminente na conversa. Dilma não disse nada do tipo apoio fulano ou endosso beltrano. Foi como se desse de barato que os próximos presidentes do Congresso serão os líderes do PMDB: Renan Calheiros no Senado e Henrique Eduardo Alves na Câmara. Dilma já torceu o nariz para Renan. Mas o senador estava no Alvorada. E o simples convite funcionou como sinalização de que os óbices desapareceram. Renan não disse palavra. Sobre a Câmara, mencionou-se o acordo escrito que prevê o apoio do PT ao indicado do PMDB. Acordo é coisa para ser cumprida, disse Dilma. Rui Falcão, o presidente do PT, ecoou-a. E o deputado Jilmar Tatto, líder do petismo na Câmara, declarou que , independentemente de acordos, Henrique Alves merece ser alçado à cadeira hoje ocupada por Marco Maia, também presente.
9. Henrique Alves: o líder do PMDB teve de deixar o Alvorada antes da sobremesa. Ele agendara um encontro com a bancada do PR. Estava atrasado. Pediu desculpas à anfitriã. Preciso cuidar da minha eleição, afirmou. Nesse instante, Dilma como que explicitou seu apoio ao deputado. Vá mesmo, ela estimulou. Aqui tem poucos votos. E todos já são seus. Antes, Temer fizera um comentário jocoso: o Henrique trabalha tanto que vai chegar à eleição como candidato único. Não vai ter graça. O ministro peemedebista Mendes Ribeiro (Agricultura) devolveu a piada: quando você concorreu como candidato único teve graça, não é mesmo? Dilma gargalhou.
10. Bom homor: a Dilma que se exibiu ao PT e ao PMDB na noite do Alvorada é muito diferente da Dilma com que os aliados se habituaram a lidar. Durante todo o encontro, que terminou pouco antes da meia-noite, a presidente destilou um humor raro. Nas poucas vezes em que tratou de projetos que correm no Congresso, Dilma evitou o habitual estilo de mandona. Soou cândida ao tratar da medida provisória que prevê a redução do preço das contas de luz. Manteve a calma ao ser informada de que a Câmara acabara de lhe impor uma derrota no projeto da repartição dos royalties do petróleo. Ela defendera que 100% dos royalties fossem destinados à educação. Os deputados deram de ombros. Não foi possível, disse Henrique Alves, que, em plenário, encaminhara a votação contra a proposta do governo. Dilma deu a entender que sancionará o texto aprovado. Vamos ver o que vem, afirmou, reservando-se o direito de vetar os trechos que julgar mais impróprios. Uma intervenção de Valdir Raupp terminou de comprovar a rendição de Dilma à cordialidade. Em dado momento, o presidente do PMDB insinuou que alguns diretórios estaduais reclamam por mais espaço no governo. Dilma farejou na observação um pedido de ministérios. Noutros tempos, iria à jugular do pidão. No novo formato, atalhou Raupp com um sorriso: Ôpa! Vamos deixar que isso venha como consequência, não como reivindicação, disse, inusualmente lhana.
Foram à mesa do Alvorada duas opções de prato: carne e peixe. À mesa, a conversa fluiu amena. Quando Henrique Alves informou que teria de se ausentar para cabalar os votos do PR, Dilma foi, de novo, calculadamente gentil: Antes, vamos fazer um brinde, ela convidou. Quando a gente não tem afinidade, faz discurso. Quando somos parceiros, a gente faz um brinde, acrescentou. As taças foram erguidas pelo “passado e pelo futuro” do relacionamento entre os dois sócios majoritários da aliança. Dilma vê “muito trabalho” pela frente. Mas não parece enxergar nada além de 2014 no fim do seu túnel particular.
- Em tempo: Pelo PT, estiveram no Alvorada: Rui Falcão, presidente da legenda; Marco Maia, presidente da Câmara; os líderes Walter Pinheiro, Arlindo Chinaglia, Jilmar Tatto e José Pimentel; e os ministros Aloizio Mercadante (Educação), Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência); e Ideli Salvatti (Relações Institucionais). Pelo PMDB, foram à mesa: o vice Michel Temer; José Sarney, presidente do Senado; Valdir Raupp, presidente do partido; os líderes Henrique Alves, Renan Calheiros e Eduardo Braga; e os ministros Garibaldi Alves (Previdência), Mendes Ribeiro (Agricultura), Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) e Gastão Vieira (Turismo).