Antes refratária à ideia de levar a Presidência da República e seu prestígio pessoal aos palanques municipais, Dilma Rousseff sinalizou ao PT o interesse de participar da campanha. Requisitou informações sobre a legislação e a forma como o partido irá ressarciar ao erário os custos de suas viagens eleitorais.
Pelo PT, a negociação com Dilma é conduzida por Rui Falcão, presidente da legenda. Ainda não chegaram a uma definição quanto ao formato. Mas Falcão depreendeu das requisições feitas por Dilma a convicção de que a presidente estará fisicamente presente em municípios estratégicos.
Em relação às despesas, o PT vai sugerir a manutenção do modelo adotado sob Lula. Quando a viagem presidencial estiver claramente associada à campanha, o partido devolverá ao Tesouro o dinheiro do combustível do avião. Entende-se que os outros gastos –segurança, por exemplo— correm por conta do contribuinte.
Nesta quinta (26), Falcão reuniu-se com o senador Humberto Campos, candidato do PT à prefeitura de Recife. Prioridade do partido, a capital pernambucana tornou-se prioritária também para Dilma. Ali, o governador Eduardo Campos, presidente do PSB, lança os alicerces de um projeto presidencial alternativo. Rompido com o PT local, Eduardo carrega o candidato Geraldo Júlio.
Falcão disse a Humberto e ao vice da chapa dele, o deputado petista João Paulo, que Recife é uma das praças em que Dilma deve dar as caras. Ela ainda não disse quando. Se depender exclusivamente da contade do partido, o deslocamento ocorrerá ainda no primeiro turno.
Voarão para Recife também ministros do PT. O partido negocia especialmente com três: Alexandre Padilha (Saúde), Aloizio Mercadante (Educação) e Tereza Campello (Desenvolvimento Social), gestora do Bolsa Família. São ministros que administram verbas de interesse das cidades.
Associando-os aos seus candidatos, o PT pretende sinalizar ao eleitorado que, uma vez eleitos, terão mais facilidade para chegar às arcas. Por ordem de Dilma, os ministros farão campanha nos finais de semana e em horários noturnos, fora do expediente. O partido financiará as viagens.
Afora Recife, o PT guindou ao rol de prioridades outras duas cidades: a São Paulo do candidato Fernando Haddad e a Belo Horizonte do postulante Patrus Ananias. A ambas espera levar Dilma e os ministros. De novo, o interesse do partido como que se entrecruzou com os da presidente da República.
Na capital mineira move-se outro projeto presidencial que Dilma gostaia de abater: o senador tucano Aécio Neves, apoiador do candidato à reeleição Márcio Lacerda (PSB), de cuja coligação o PT desembarcou na última hora. Em São Paulo, está em jogo a velha rivalidade com o PSDB, encarnado na candidatura de José Serra.
No final do ano passado, Dilma dissera ao vice Michel Temer (PMDB) que, nas cidades onde houvesse mais de um candidato de partido governista, ela evitaria se meter. Numa declaraçãoo de 3 de julho, a ministra Ideli Salvatti, coordenadora política do Planalto, insinuara que o distanciamento da chefe seria total.
“A presidenta não tem intenção de se envolver [nas campanhas]. Ela tem dito reiteradamente que a melhor maneira de ela ajudar nas eleições é o Brasil continuar bem. Esta é a prioridade”, dissera Ideli. Em poucos dias, o lero-lero da isenção deu lugar a intensas articulações.
Dilma atuou politicamente em Recife, São Paulo e Belo Horizonte, as três prioridades do PT. Nas duas primeiras, empurrou o PP para dentro das chapas de Humberto Costa e Fernando Haddad. No caso paulistano, a operação custou-lhe a cessão de uma secretaria do Ministério das Cidades a um apaniguado de Paulo Maluf, o mandarim do PP de São Paulo.
Em Belo Horizonte, Dilma pôs em além em pé a candidatura de Patrus Ananias, ex-ministro do Bolsa Família na Era Lula, provendo-lhe o apoio e o tempo de tevê do PMDB de Temer e do PSD de Gilberto Kassab (neste caso, dependente de decisão judicial). Na fase atual, a presidente evolui dos subterrâneos para o debate sobre sua presença na vitrine.
Além de Dilma e dos ministros, o PT aparelha-se para infundir nas campanhas de seus candidatos a popularidade de Lula. Já acertou com ele a parte coreográfica. Serão gravadas no início de agosto as peças para a propaganda eleitoral –vídeos e vinhetas de rádio.
Quanto à presença física, a participação de Lula está condicionada a uma avaliação médica marcada para 6 de agosto. Na reunião com Humberto Costa, Falcão soou otimista. Estivera com Lula dois dias antes. Parecera-lhe bem disposto. De fato, vindo de um descanso de duas semanas, o míssel eleitoral do PT traz as baterias renovadas. Porém…
A voz de Lula ainda soa claudicante. A perna esquerda lhe dói menos. Mas ainda incomoda. E a boa disposição veio por conta de um repouso que os médicos e a mulher, Marisa Letícia, prefeririam prolongar. Assim, a despeito da vontade do paciente, a prescrição médica e familiar pode limitar sua presença aos atos de campanha de São Paulo.